quarta-feira

A vida e os amores de Gina - Cap. 3


Alguns anos se passaram e Gina mudou de atitude. Daquela menina sensata e quieta, não havia sobrado muito. No fundo era apenas revolta; um descontentamento que não a deixara em paz. Passou da mansidão, à rebeldia. Muitos namorados passaram em sua vida. E, aos 15 anos, namorando um homem maduro, com a vida arrumada, decidiu enfrentar a família que era contra, e casar.
Fora um casamento simples, sem recepção, sem nada. Apenas algumas pessoas das famílias. Por dois anos ele foram felizes, mesmo com a intervenção permanente das mães, insatisfeitas com a união, até que finalmente conseguiram separar o casal. Ele maduro, apaixonado e seguro das atitudes, lutou tentando evitar. Mas, ela muito menina, sem a menor experiência, sem vivência nenhuma, foi convencida de que o melhor seria que cada um, vivesse sua vida. E assim, fora mais uma decepção, mais uma atitude que a levaria a um arrependimento enorme!
Voltara a viver a sua vida em casa dos pais. Passara a frequentar a escola que havia abandonado, por ocasião do casamento. Procurava de todas as formas, não pensar no que havia feito, mas, à noite, quando colocava a cabeça no travesseiro, vinham as lembranças, a saudade e as lágrimas escorriam, sem que pudesse controlar.
Sempre fora uma mulher vibrante! Gostava de viver e vivia as emoções intensamente! Amar e ser amada, sempre foram seus maiores sonhos. Nunca teve grandes pretensões, nem ambições. Era uma mulher com alma de menina; romântica e sonhadora. A vida pra ela não precisaria ter muito, principalmente luxo. Porém, sempre fora de intensas paixões. E seu corpo queimava! Gina não era bonita, mas tinha uns olhos e um sorriso que chamavam atenção. Naquela idade, com o frescor da juventude, chamava atenção nos lugares que frequentava.
A rua onde marava não era bem iluminada, mas havia um encanto diferente; as pessoas se conheciam, conversavam, como nas cidades do interior. Todas as noites ela, a irmã e uma amiga, se reuniam na porta do prédio em que moravam e sentadas na escada, passavam horas a cantar e tocar violão. 
Do outro lado da rua, morava uma família, que num dia desses comuns, em que cantavam, chamou atenção de um modo meio estranho da receptividade dos demais; uma senhora, do cabelo curto, totalmente grisalho, de uma hora pra outra, saiu e gritou com elas, que fossem cantar em outro lugar. Dessa forma, veio a perceber, um outro morador, seria o filho caçula. Olhou pra ele e sorriu. Sentiu a mesma receptividade dele. Um clima estava pairando no ar, mas nada que fosse além. Por diversos dias, trocaram olhares, sorrisos e discretas palavras. Num desses dias, ela decidiu que iria cumprimentá-lo, quando fosse até a garagem pegar o carro,  era um carro wolksvagem branco, 5677, como era costume todos os dias. 
Foi uma decisão acertada, pois ele estava feliz. Tratou-a com muito carinho e marcaram outro dia para conversarem, demonstrando também, que se interessara por ela. Antes desse encontro, sempre que se encontravam, os olhares se cruzavam. A química era perfeita e era difícil, esconder o que estava acontecendo. finalmente chegara o dia em que marcaram; ele parou o carro e a chamou pra conversar. E assim começou um romance marcante em sua vida. 
Ela boba, se deixou levar pela paixão e viveu com ele o mais lindo romance, sem notar as estranhezas que o fazia não ter muito interesse em estar com ela em público.
Ao final do primeiro ano, Gina descobriu que estava grávida. E, ainda que o medo a dominasse com a notícia, por causa dos seus pais, ela estava muito feliz! Sempre sonhou ser mãe e no seu casamento não conseguiu. Essa gravidez trouxe euforia porque sempre fora seu sonho e, principalmente, por ser filho daquele homem que amava tanto!
Ao receber o resultado do exame, sem se conter de felicidade, foi procurá-lo e mostrou o resultado. Ele incrédulo e sem demonstrar nenhuma emoção, começou um discurso tentando convencê-la a fazer um aborto. 
No outro dia pela manha, por desacerto e para sua tristeza, um amigo fora em sua casa e ficaram sentados na escada conversando. Justamente nesse dia e nessa hora, ele foi levar umas injeções abortivas, que deveria tomar; porém, ao ver que ela conversava com outro, simplesmente, deixou o embrulho da farmácia em suas mãos e saiu, sem perguntar nada. Também não deu oportunidade dela lhe dizer uma palavra.
Daquele dia em diante ele não quis mais falar sobre o episódio, nem sequer, pra perguntar se ela havia tomado as injeções. Antes de qualquer coisa, fez um julgamento precipitado e condenou, achando que havia alguma coisa entre eles. 

***

Gina mudou-se com os pais para um bairro distante. As dificuldades de se verem eram cada dia maiores. Mas, quando por ventura acontecia, era apenas uma tentativa de convencê-la a extrair a criança. Mas ela havia criado tanto amor, que decidiu levar adiante, contrariando a todos.
Quando o bebezinho nasceu, ele não foi ver, nem quis saber. Disse que só aceitaria dar o nome a criança, se ela nunca mais o visse. Daquele dia em diante, ela se convenceu que de fato, ele não queria nada com os dois.
Ele era o caçula de 5 irmãos, com uma diferença de idade grande, entre o penúltimo e ele. Quando a mãe engravidou, já com uma idade avançada, não esperava que ainda fosse acontecer. E assim, ele fora muito cheio de vontades, não só por parte dos pais, bem como dos irmãos. E para não contrariá-lo, decidiram ignorar a criança. Ali, ninguém se compadecia com a dor de ninguém, a não ser a deles mesmos. Eles em nenhum momento se dispuseram, ao menos, a conhecer. Muito menos aventaram a possibilidade de solicitar exame de DNA, que já se fazia na época.
Assim, ela registou sozinha e criou seu filho, sem que ninguém conhecesse, ou quisesse ver.