A noite desceu sem que ela
tivesse se dado conta. Olhou lá fora o céu; quase não se via estrelas nenhuma.
Apenas um pouco da lua brilhante, como se quisesse fazer brilhar a alma de
Gina. Levou as mãos aos olhos tentando tirar a nuvem deixada pelas lágrimas.
A madrugada passou sem que Gina
pudesse conciliar o sono. Era um dia em que a tristeza havia tomado conta da
sua alma. A solidão doía em seu peito. Uma saudade imensa, imprecisa, que
chegava a lhe faltar o ar.
Estava ali diante de um mundo
apenas seu, revivendo momentos inesquecíveis! Cada detalhe vivo em sua
lembrança. Sonhos e frustrações de uma história comum, igual a muitas, mas, um
pequeno diferencial; seu modo simples e romântico de ver a vida. A capacidade de
renascer das cinzas, embora, cada volta tenha trazido uma conseqüência em sua maneira
de pensar e agir.
Pensou que talvez seu destino
pudesse ter sido diferente, se os pais não tivessem castrado tanto, suas
emoções. Os tempos eram outros. Costumes e criação diferentes; exigência de
comportamentos. Mas Gina, desde menina dava sinais de que viveria uma vida de
intensidade e, aos 10 anos, teve sua primeira paixão. Coisa de criança.
Entre eles, que eram quase da
mesma idade, o encanto brilhava nos olhos e a inocência fazia com os dois
tivessem um romance totalmente fora do contexto. Apenas se limitavam a pequenos
e furtivos encontros no cinema da cidade, sob os olhos vigilantes da generosa
mãe dele. Tudo que havia, era apenas, a emoção de segurar nas mãos. E os
olhares nos finais de tarde, quando ele sentado na janela do fundo da casa,
tocando seu violão, cantava para ela, que morava do outro lado da rua.
As casas ficavam bem direcionadas
uma, para outra, apenas separadas pelo rio que cortava a cidade. Tudo era sonho
e encantamento.
Enfim, chegara a semana dos
namorados e as amigas comentavam que a mãe dele, havia comprado um presente para
ela e incentivaram-na a comprar um também. Infelizmente, aquela decisão,
talvez, tenha sido o início de uma grande desilusão, que marcara sua vida para
sempre!
Naquela cidade pequena do
interior, onde moravam, todos se conheciam e tudo era comentado. E assim,
chegou ao conhecimento dos pais de Gina, a compra do tal presente. A mãe, uma
senhora muito exigente e rígida com a educação dos filhos, num ato impensado,
levou-a até a casa namorado, onde deveria pegar o presente de volta. Pelo
caminho, ela foi sendo conduzida pela orelha, sem que tivesse se dado conta das
pessoas que assistiam àquela cena e o quanto a menina estava se sentindo
constrangida. Lá chegando, foi obrigada a pedir o cinto de volta e com ele, voltou
apanhando até sua casa, apesar dos apelos da generosa e simpática, D. Celina, mãe
dele.
A vida transcorria naturalmente, mas
para Gina muita coisa mudou e talvez nem tenha se dado conta. A partir daquele episódio,
ela se tornou uma pessoa insegura. Sonhadora, mas, sem coragem de lutar pelos seus
sonhos, achando que não tinha direito a eles. Envergonhada, passou a se
esquivar de encontrar qualquer pessoa daquela família.
Aquele episódio foi um marco em
sua vida. Um divisor de águas. A partir dali, mudou seu comportamento e passou a
ser rebelde, fazendo coisas para chocar a família.