quarta-feira

Rosas para Giselly


Rosas para Giselly


Paris 1830

Inverno, final da tarde.
Aquele seria o primeiro dia em que o tempo anunciara o fim daquele inverno rigoroso. Giselly, uma jovem com a saúde frágil, havia cansado de se resguardar em casa, a espera de dias melhores, mais quentes, para que pudesse sair. Durante o rigor do frio, neve e das garoas, ela havia sido proibida de ir as ruas e se proteger, da melhor maneira possível.
O tempo havia dado uma melhora. O céu já não estava tão cinzento e o frio já soprava suavemente. O sol continuava escondido, mas já dava um ar ameno nas ruas, iluminando aqueles imensos jardins coloridos pelas flores, que já apareciam aqui e ali... Aproveitando o anúncio da chegada da primavera e levada pelo cansaço e triste, pelo tempo recolhido, dentro de casa, Giselly decidiu fazer um passeio nas margens do rio Reno. Se agasalhou bastante, pegou o sombreiro e saiu.
Estava na flor da idade, mas por causa do seu estado frágil de saúde, não tinha convivência com ninguém. Quase não saia, a não ser que o tempo desse garantia de uma temperatura agradável. Pouco se afastava de casa e nos últimos anos, os instrutores iam até sua casa, ministrar aulas.
Andava pelas ruas, como se tudo fosse novidade. Se encantava com o movimento dos carros, das pessoas que entravam e saiam das luxuosas lojas e com o perfume das ruas, advindo das famosas perfumarias.
Por alguns instantes, ela até se esqueceu dos problemas e se distanciou das área que costumava andar e decidiu ver de perto o rio Reno. Talvez, quem sabe, um passeio nos barcos? Pensou!
Assim o fez. Atravessou as ruas e foi se ater nas margens daquele lugar, onde sempre tivera o sonho de andar. Estava ali, extasiada diante de tudo. Tudo era novidade. Levada pelo impulso, foi aos poucos se aproximando e desceu as escadas chegando a um dos barcos, que se aproximava a hora da partida, levando turistas a conhecer a cidade e lugares encantadores.
Haviam negociantes de todas as ordens, que ofertavam seus produtos; desde lanches, a flores. Dentre eles, Jean Michel, um rapaz forte, bonito, com o sorriso largo, dono da floricultura, que se encantou com a menina. De fato, era linda, apesar da fragilidade. Tinha os cabelos longos, magrinha, olhos verdes e apesar de tudo, estava feliz e sorridente. 
Michel parou alguns instantes para observá-la e num impulso, foi até lá e ofereceu-lhe uma rosa. E os olhos se cruzaram. Haviam algo doce naquele gesto dos dois. Ela emocionada, com os olhos marejados de lágrimas. Agradeceu. Ele sem saber o que dizer, perguntou se era turista, igual a maioria que por ali passara. E foi assim, que começaram a conversar. Daquele dia em diante, todas as tardes, naquele mesmo horário, ela estava no mesmo lugar, um banco escolhido pelos dois, próximo a floricultura. Giselly havia até esquecido seu problema, sua proibição com frieza, ventos e chuvas. Muitas vezes, contrariando todas as advertências, ela saia ao encontro de Michel.
Qualquer pessoa que olhasse para eles, percebia a paixão, o amor que os envolvia. E assim, viveram por longos e felizes meses. Sempre no mesmo banco e sempre ele a recebia com uma rosa na mão.
Certo dia, em pleno inverno rigoroso, Michel esperou por Giselly por horas, mas ela não apareceu. Ele colocou a rosa no banco e saiu. No outro dia a mesma coisa, o mesmo gesto. Então decidiu ir a sua procura. Chegando à sua casa, soube que ela havia falecido, no dia em que deixou de ir ao encontro. Mas que havia deixado um bilhete, escrito alguns minutos antes de ir para o hospital. Porém, ninguém sabia como fazê-lo. Pois, no envelope só constava: Para meu grande amor, Michel. 
Desesperado, abriu e perplexo, leu as últimas palavras da sua amada. Michel ajoelhou-se com os olhos embaçados pelas lágrimas, olhou para o céu e peguntou: por que Senhor? Por que a minha Giselly? Ficou ali por longos instantes, como quem busca uma explicação. Levantou, beijou a rosa que segurava e voltou ao banco onde passara horas ao lado da amada.

Daquele dia em diante, nunca mais ninguém viu Michel sorrir. E todos os dias ele colocava uma rosa no banco, com um bilhete: Para minha Giselly.

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