quarta-feira

Vem comigo?


Vem comigo?
Lúcia Laborda

O telefone tocou; uma voz pouco conhecida, porém marcante, a fez sentir arrepios. Do outro lado, aquela voz sensual, dizia querer vê-la. Minutos antes, havia recebido umas fotos. Hummmm!, pensara: é ele! O homem misterioso... e vieram muitas outras, como a querer mostrar-ser para ela. Estava sem palavras.
O relógio marcava 22 h. Incrédula, sentia que perdia o chão de tanto contentamento. Afinal, era uma figura solitária e misteriosa, que pouco via, mas que admirava muito! Talvez bem mais que uma simples admiração. Apesar de saber pouco a respeito dele. Pouco também as pessoas do condomínio sabiam.
Talvez, aquele mistério todo a atraísse. Ou, a própria solidão em que os dois viviam. Muitas vezes se tornava impossível não pensar naquele olhar. E, de repente, sem entender como, estava ali, a ouvir aquela voz do outro lado da linha, a querer vê-la, nem que fosse por instantes, na porta do elevador.
Pensou por que não? O que poderia nos impedir? Assim combinaram; quase nem acreditava no que estava acontecendo. O dia havia transcorrido normal, vazio como todos os outros e de repente, estava ali prostrada na porta do elevador; nervosa, encabulada e ansiosa para aquela porta se abrir. O edifício em que moravam, parecia que todos dormiam. O silencio, naquele momento era inquietante. Muitas sensações experimentara em poucos segundos.
O telefone tocou novamente; era ele a dizer que já estava subindo. O coração parecia querer sair pela boca. Sentiu que as mãos estavam trêmulas, geladas! As luzes acendiam marcando os andares e apesar da distância tão curta, parecia não querer chegar.
De repente, a porta se abriu e ele estava lá, sorridente com aqueles olhos lindos! Paralisada, sem ação, ela viu que estava determinado e vinha em sua direção. Sem que esperasse, sem nada dizer, apertou-a em seus braços, envolvendo-a com paixão.
E trocaram carícias, como se já tivessem intimidades. Eram corpos que se buscavam com veemência e fulgor. Beijaram-se com volúpia e desejo. De repente ele disse baixinho em seu ouvido: vem comigo?

Daniel Lopes

“Como resistir àquele convite! Afinal, era o que, no íntimo, mais desejava. Afinal, sua solidão já durava certo tempo, em que ficava, noite, após noite, sonhando com alguma coisa parecida. Então por que temer? Vou me entregar de corpo e alma e ver o que irá acontecer, pensou ela.”

Ao ver que ao meu convite, ela não titubeou, uma onda de alegria tomou conta do meu ser, pois, eu a desejava há muito tempo. Vinha fazendo um flerte discreto esperando a hora certa para que tudo acontecesse. Finalmente, era o dia! Era o momento tão esperado, creio que por nós dois. Então nos dirigimos ao andar em que eu morava, e tratando-a como uma princesa a introduzi no meu apartamento. Desculpei-me pela bagunça generalizada, pois eu morava sozinho e somente uma vez por semana vinha uma senhora para fazer a limpeza e botar as coisas em ordem.
Mas uma coisa que eu mesmo fazia conta de manter arrumado era o meu quarto. Detestava ver um quarto desarrumado. Assim, todos os dias, eu mesmo cuidava de deixar a minha cama toda bem arrumada, talvez até porque nutria a esperança de que o
dia em que as coisas acontecessem, não seria pego de surpresa. E o dia era hoje, ou melhor, a noite era hoje!
Sem dizer palavras, deixando que nossos corpos falassem por nós, levei-a até o meu quarto, e ali lhe servi um “Dry Martini”, em uma taça que há muito tempo estava esperando por aquele momento. Coloquei para tocar o bolero “Besame Mucho” na voz de Andrea Bocelli que daria o tom e o clima para o que estava por acontecer.
Sem muitas delongas, fomos nos acariciando cada vez mais, até chegarmos ao ponto em que nossos sentidos falaram mais alto e dominaram nossa vontade.
De repente eu tinha ali, na minha frente, aquela formosura de mulher no mesmo estado de quando veio ao mundo, totalmente nua à minha mercê. Querendo que eu a possuísse. E eu não sabia se iria possuí-la ou se seria possuído por aquela mulher que poderia ser, ao mesmo tempo, um anjo ou um demônio, pois eu estava totalmente fora de mim, totalmente possuído por aquela tremenda tentação.
E sem pensarmos em mais nada, a não ser naquele encontro que finalmente estava acontecendo, e fomos nos entregando um ao outro e experimentando tudo quanto o amor pode nos dar. E a tudo ela correspondia e me dava um pouco mais. E o tempo foi passando sem que nos apercebêssemos, pois o tempo já não nos interessava e não contava para nós.
Quando, finalmente os raios do sol entraram pela vidraça da janela, anunciando o nascer de um novo dia, olhamos um nos olhos do outro e tivemos a certeza de que o que aconteceu foi sublime, pois deixou-nos totalmente saciados do sexo e do desejo, mas com uma vontade de querer cada vez mais, bastando para acontecer novamente que fosse pronunciada a palavra mágica que deu início a tudo: Vem Comigo?


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